Início de uma história da Cidade chamada:
IGUASSÚ
Breve análise de uso de suas instalações segundo estudo de sua planta
JOSÉ LUIZ TEIXEIRA
Advogado
Membro do Instituto Histórico Geográfico de Nova Iguaçu Instituto Amigos do Patrimônio Cultural | Pesquisador da história Iguaçuana
PREÂMBULO
Atendendo solicitação dos estudantes de arquitetura Danielle Almeida, Patrícia Vettorazzi, Cecília Trindade, Carla Gomes e Gabriel Amaral, que buscam conhecer e identificar as funções dos diversos cômodos da Fazenda São Bernardino, para instruir trabalho que vem desenvolvendo durante seu curso, tentaremos responder aos mesmos, seguindo a ordem da numeração que foi colocada no desenho da planta da referida fazenda, obtida nos arquivos do IPHAN.
Entretanto, necessário se faz um ligeiro resumo introdutório que permita inserir referida edificação no contexto do Século XIX, considerando ainda sua localização e seus fins, segundo objetivos de seu proprietário, além de breve reflexão sobre seu abandono até o presente estado de ruína.
A CASA GRANDE
Construção de estilo neoclássico, em forma de “U”, com três pavimentos na sua parte central, edificada sobre um pequeno outeiro, situada do lado direito da estrada que de Vila de Cava segue para Tinguá, denominada atualmente Estrada Zumbi dos Palmares, nº 2023, anteriormente denominada de “Estrada Federal”, muito embora seja uma Rodovia Estadual (RJ 111), situada no distrito de Vila de Cava, no município de Nova Iguaçu, ficando localizada no extinto território da Vila de Iguaçu, no lugar hoje conhecido como Iguaçu Velha.
À sua frente, um majestoso renque de palmeiras imperiais, conduz o caminho entre a fazenda e a antiga Parada São Bernardino, da antiga e hoje extinta Estrada de Ferro Rio D`Ouro, emoldurando o belo conjunto arquitetônico que ainda hoje comove aquele que a visita, possuindo em plano inferior, que se acessa por alta escadaria, um amplo terreiro de secagem de café, contornado pelas ruínas da antiga senzala e do que sobrou do engenho.
Seu fundador foi o Comendador Bernardino José de Souza e Mello, que depois do casamento com Cipriana Maria Soares, passa a ser sócio de vários negócios com o sogro, o também Comendador Francisco José Soares, na Villa de Iguassu, reunia com suficiência todas as possibilidades para construir a Fazenda São Bernardino, assim se referindo a ele o relatório existente no IPHAN, quando da iniciativa de se levar avante a implantação do Parque de Múltiplo Uso São Bernardino, no ano de 1974, pela Prefeitura de Nova Iguaçu, com recursos da FUNDREM – Fundação para o Desenvolvimento da Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro:
“Os negócios em que os Soares e Melo estiveram à frente, juntos ou separados, tomando por base o ano em que a cólera-morbo atingiu a Vila de Iguaçu (1855), e dai por diante, foram os seguintes: Melo & Irmão, Melo & Souza (comércio); Soares & Melo (arrematante de barreira e “venda de bilhetes” para passageiros nos “ônibus” de Joaquim Gonçalves Bastos); Moura, Filhos Soares & Cia. (frete, ensaque e exportação de café); Veiga & Cia. (idem)
Não foi sem razão que foi classificada em dito relatório como:
“Exemplar de elevado valor monumental do patrimônio histórico e artístico do país”.
Caminhar por suas ruínas desperta a imaginação. E logo nos vem os ecos do passado, como a sugerir de que maneira se vivia ali no tempo de fastígio e opulência, do ir e vir das pessoas, o canto melancólico de algum escravo, a sonhar com a liberdade ou sua terra natal, as mocinhas casadoiras contando os dias para a festa da matriz ou curiosas a respeito de algum visitante moço, que não podia ultrapassar a ala social da casa.
O poeta mineiro Emílio Moura, amigo e conterrâneo de Drummond, no seu livro A Casa, define melhor esse sentimento com seus versos:
“Abro os olhos à memória: a Casa salta do tempo.
Ah, cheiro de outrora, cheiro de relva, de terra úmida…
A vida, ao redor, tão clara, tão segura de cada hora.”
“Transbordamos para o pátio, vencemos, céleres, …”
“…áreas sem limites. Que áureo mundo!”
“Há valos, córregos, moitas e, ah, segredos!…”
“Em cada ritmo, um modo de ser e sonhar…”
Idealizada e construída pelo Comendador Bernardino José de Souza Mello a partir do ano de 1862, só veio a ser concluída no ano de 1875, segundo data que até há poucos anos se via em sua fachada, além do monograma BJSM, alusivo ao seu fundador. Foi edificada na nova área surgida a partir da junção de duas propriedades:
“Em 1861, a 13 de outubro, a firma Soares & Mello, como cessionária da viúva Moreira, de Luiz Manoel Bastos, José Joaquim Gonçalves, Manoel José Ferreira, Manoel de Moura Alves e Barão de Guandu (credores de José Frutuoso Rangel, inventariante de sua mulher – Antonia de Moura Rangel), adquire terras do citado inventariante, após o pagamento das dívidas do casal.
Tratava-se de um “sítio” de florestas, em terras próprias, com trezentas e oitenta e sete braças e sete palmos de testada e fundos, um quarto de légua, mais ou menos, com todas as benfeitorias e onze escravos (pelo valor de três contos de réis).
Tudo registrado no cartório do tabelião José Manoel Caetano dos Santos (processo nº 2.252, existente no Cartório do 1º Ofício de Nova Iguaçu).
O sítio de floresta, com benfeitorias e escravos é posteriormente comprado por Bernardino José de Souza e Mello, por dois contos de réis.
A 3 de junho de 1862, Bernardino José de Souza e Mello adquire o “sítio Bananal”, que era de propriedade de Francisco de Paula e Silva e sua mulher – Maria Maciel Rangel da Silva.
Esse sítio media 434 braças de testada e 603 de fundos, confrontando-se ao norte, com José Gonçalves Bastos; aos sul, com José Frutuoso Rangel; fundos, com os herdeiros do capitão Joaquim Mariano de Moura; frente, com Fortunato José Pereira.
O objeto desta compra estava hipotecado a Francisco José Soares e Luisa Joaquina da Costa Neves “que abriram mão da hipoteca em favor de Bernardino José de Souza e Mello”.
Os dois “sítios” são anexados e formam o primeiro núcleo territorial para compor as terras da futura Fazenda São Bernardino.”
A primeira estranheza que se impõe a quem estuda a fazenda é o fato da mesma ter sido iniciada e concluída sua construção já em plena era de decadência da vizinha Villa de Iguassú, que desde 1858, com a chegada da Estrada de Ferro Dom Pedro II a Maxambomba (atual centro de Nova Iguaçu), iniciara o lento processo de esvaziamento econômico em favor do citado lugarejo, que deixara a Villa apenas com a animação artificial que lhe proporcionava a vida administrativa do município, que ali ficou até o ano de 1891, quando se transfere em definitivo para Maxambomba.
Com efeito, na medida que a Estrada de Ferro Dom Pedro II, se interiorizava em direção ao Vale do Paraíba e posteriormente em direção as províncias de São Paulo e Minas Gerais, decaia dia a dia o movimento de tropas na Estrada Real do Comércio, que ligando a antiga Villa de Iguassu, ao interior das antigas províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais, foram a razão de sua existência como uma das muitas Vilas de Comércio, que haviam no chamado Recôncavo da Guanabara, citadas por Alberto Ribeiro Lamego no seu livro “O HOMEM E A GUANABARA”.
Sobre esta importante estrada, oportuno transcrever o texto utilizado em placa de sinalização dos monumentos históricos,
desenvolvida pelo IAPAC (Instituto dos Amigos do Patrimônio Histórico) e IHGNI (Instituto Histórico e Geográfico de Nova Iguaçu):
Minguava a cada dia a busca de seus numerosos portos fluviais, armazéns e trapiches e com isso o abandono paulatino dos cuidados devidos a navegação fluvial que ocasionaram a inviabilidade do transito de barcos no Rio Iguaçu, em razão de assoreamento de seu leito e outras obstruções.
Com a estrada de ferro, a preferência do transporte mais cômodo se fez logo sentir, acarretando a decadência do antigo sistema.
Por certo, se a decadência comercial de Iguaçu levou ao desaparecimento da Vila, não queremos dizer que o mesmo aconteceu com seus habitantes, em especial o Comendador Bernardino José de Souza e Mello, pois em hipóteses que tais, o capitalista vai procurando dia a dia como empregar seu dinheiro de modo que o homem previdente não é apanhado de surpresa.
Na verdade, Bernardino de Mello, ganhava muito mais como comprador e revendedor de café do que propriamente produzindo esse produto ou qualquer outro e quando ocorreu o declínio final da Villa de Iguassú, seus interesses comerciais já estavam enraizados em Maxambomba.
Para realizar esta pesquisa, buscamos na hemeroteca da Biblioteca Nacional os jornais da época e lá deparamos com uma notícia que só o frete aplicado ao café, na sua passagem por Iguassú, encarecia o produto em 20% e não nos esquecendo que Bernardino de Mello e o sogro detinham o principal porto fluvial da Vila, o Porto Soares & Mello. Era, ainda arrematante de produtos apreendidos pela barreira fiscal, atividade extremamente especulativa, além de ser comissário de café. Não resta dúvida que quando a Villa de Iguassú decaia os Soares & Melo já tinham outros planos, transferindo seus negócios para a localidade de Maxambomba, a qual, desde 29 de novembro de 1862, pelo Decreto nº 1267 da Província, tornara-se sede da Freguesia de Santo Antônio de Jacutinga.
Ao se analisar a planta da Fazenda São Bernardino e lhe visitar as ruínas, fica patente que sua construção decorreu de calculado e intencional propósito de seu proprietário, refletindo a edificação todas as circunstâncias então existentes em mãos de seu construtor, como procuraremos demonstrar, de modo que tudo obedece a propósitos e intenções pré-definidas, que vão de sua posição social e fortuna acumulada até aquele momento, sua cultura pessoal, suas relações sociais e políticas no universo fluminense de então.
O TERRENO ESCOLHIDO “visto no tempo atual”
Podemos começar pela escolha do lugar para sua implantação, o partido arquitetônico escolhido e executado, a elevada qualidade técnica da construção que empregou desde a utilização de vidraças nas janelas, telhas de louça importada em seus beirais, estas, da fatura da Fábrica de Cerâmica Santo Antônio do Vale da Piedade, no Porto, em Portugal, pedra em seus alicerces e tijolos maciços em sua alvenaria, procedentes de olarias de Iguaçu, além de madeiras nobres em sua estrutura de telhados com muitas águas e assoalho sobre porão elevado.
A fachada principal, disposta num corpo central de três pavimentos, possui de cada lado duas alas em forma de “U” com pátio central ajardinado, que lhe dão feições de palacete rural, repetindo fórmula empregada nas grandes edificações do período imperial, como o próprio palácio de verão do imperador em Petrópolis, também de estilo neoclássico ou das grandes fazendas de café do Vale do Paraíba.
Porque razão a fachada estaria orientada para a direção Norte e a fazenda construída em plano elevado em relação ao engenho (dependências de serviços) e a senzala, cocheiras e tulhas e poderemos supor o seguinte:
– O seu construtor desejava oferecer boa insolação aos quartos dispostos nas duas laterais em forma de “U”, de modo que uma parte recebesse o sol da manhã enquanto a outra ala o sol da tarde.
– Intencionava ele que a fachada estivesse voltada para a grande e bela Serra do Tinguá, cuja vista privilegiada se obtém nesta direção, a qual é apreciada facilmente de qualquer ponto de quem se encontre sobre o pequeno outeiro onde se ergue a fazenda, melhor ainda para quem estivesse nos pavimentos superiores, de suas janelas, mirante ou balcões gradeados. Aliás, a fachada com suas águas e volumes não deixa de ser uma repetição do volume projetado da citada Serra, a lhe imitar os contornos.
– O construtor sabia, como homem bem informado e de superior relação social na Corte, que naquele sítio, 12 anos mais tarde, seria implantada a Estrada de Ferro Rio D`Ouro, exatamente para onde estaria voltada a fachada principal da fazenda, decidindo plantar uma alameda de palmeiras imperiais que terminavam no local da futura estação (parada) São Bernardino. Vale lembrar que naquela ocasião não existia a atual Estrada Zumbi dos Palmares, ainda hoje também chamada de Estrada Federal, que passa diante da fazenda, a qual foi construída naquele ponto por disposição do futuro proprietário Giácomo Gavazi, para facilitar o escoamento da produção, com sacrifício de quatro palmeiras imperiais e solapamento da muralha e acesso ao patamar onde se acha a sede.
– A diferença de plano (eira e beira) na implantação dos edifícios, resultava no efeito proporcionado pela linguagem arquitetônica das diferenças de classe social e dos trabalhos servis, patenteando a divisão de mundos então existentes entre senhor e escravo, entre quem manda e quem obedece e muitas outras analogias que se podem fazer. Em suma, era mesmo para corporificar no edifício a condição social exercida e vivida pelo Comendador Bernardino José de Souza Mello.
– A ala social disposta na parte central da edificação deixava a mesma a salvo das elevadas temperaturas do clima na região, protegida pelas alas de quartos, além do pé-direito de quase 5 metros de altura além do que, nesse corpo central, o edifício se elevar do solo em razão da existência de um grande porão ventilado, que possibilitou a implantação de uma adega sob a escadaria principal, sem contar o isolamento climático proporcionado pelas grossas paredes de tijolos e telhas de barro sobre forro de madeira.
As amplas janelas e portas, permitiam um perfeito controle de luz e dos ventos, posto que dotadas de vidraças e o chamado “escuro” em todas elas, a parte de folhas de madeira que permite vedar o acesso da luz e do vento.
A par dos incontáveis elementos que realçavam a condição social do Senhor da casa, havia ainda uma capela doméstica, já que a condição de católico romano era também quase inseparável dos grandes homens do império, sendo a prática da religião elemento que distinguia e cimentava as relações sociais e civilizatórias daquele tempo. Era o tempo das irmandades e confrarias, sendo que aquele que não pertencesse a uma ou a outra teria dificuldade até para ser sepultado.
É bem possível que a implantação da capela na edificação, certamente concebida desde a feitura de seu risco, tenha contribuído, de forma decisiva, para determinar a orientação geral do edifício, pois a mesma tinha seu altar instalado na parede Leste do cômodo onde se situava a capela, de modo que tanto os fieis quanto o padre, durante a celebração da Santa Missa, ficassem voltados para o nascente (ou seja “ad oriente” ou “versus Deum” ) eis que o Concílio de Trento, determinava que, sempre que possível, os lugares de celebração, ficassem voltados nesta direção, que também é a direção de Jerusalém, ou simbolicamente, da Jerusalém celeste. Pode-se afirmar que cada um desses pré-requisito influiu, sem dúvida, com maior ou menor influência para que a Fazenda São Bernardino se tornasse o custoso edifício que efetivamente se tornou. Tão custoso que as gerações que se seguiram foram incapazes, até agora, de lhe conferir manutenção mínima de modo que se acha hoje em completa ruína, e mesmo assim, continua a despertar emoções nos que a visitam.
DESCRIÇÃO DOS CÔMODOS
Nº 1
Alcova (quarto sem janela), medindo 2,42 X 3,15, existente na ala social da fazenda, reservado para hospedar estranhos que tivessem necessidade de pernoite, os quais não tinham licença para adentrar a ala íntima da mesma, aos quais se recolhiam a noite, até a manhã seguinte. Constava a guarnição desse cômodo numa cama, um pequeno baú, uma escarradeira de metal ou louça, um urinol que se guardava oculto sob as cortinas de um pequeno criado mudo. Havia sempre um jarro com água e uma bacia para uso do hóspede.
A sala contígua (que não recebeu numeração) e que ficava no acesso da alcova, era uma espécie de vestíbulo ou hall de entrada, também conhecida como sala de música, em razão de seu teto ser decorado com motivos relacionados a música (um violino, uma livro de partitura, um trompete etc.) em gesso-estuque. Desta sala as pessoas poderiam comodamente assistir a celebração da Santa Missa na Capela que ficava à esquerda de quem entrava pela porta principal, funcionando como se fosse a “nave” da capela e o lugar desta como se fosse um “presbitério”. Desta forma, a porta em arco de acesso à capela interna, fazia as vezes de um “arco-cruzeiro”, como se fosse numa igreja. A porta da capela possuía arco de volta completa, sendo as demais portas internas com esquadria em verga reta.
A edificação da Fazenda São Bernardino, obedeceu aos critérios do estilo neoclássico, ressaltado por seu formalismo estético, primando pela simetria, notada tanto em sua fachada, com a sequência nítida dos cheios e vazios pela disposição de sua modenatura, portas e janelas, bem como de sua planta baixa, em forma de “U” onde se repete a disposição simétrica de suas alas.
A existência de uma sala de música reflete o gosto pessoal do idealizador da fazenda, sendo certo que foi amigo do compositor Ernesto Nazareth (20.03.1863 – 01.02.1934), que lhe dedicou a composição da polca Beija-flor, como se vê da dedicatória da mesma “Ao Exmo. Sr. Comendador Bernardino José de Souza e Mello” na partitura de referida peça musical.
Mauro Lemos de Azeredo (07.01.1934 – 07.11.2006), o saudoso desenhista que mais retratou a Fazenda São Bernardino, registrou com seu fino traço em nanquim, uma cena musical nesta dependência da casa, em um quadro dos anos 1980, no qual se vê um jovem ao piano, acompanhado por uma pessoa que toca um violino, enquanto uma mulher sentada em uma cadeira bordando uma toalha, assiste a apresentação. No fundo da composição, se vê a capela e seu altar. Esta sala vestíbulo é retratada nesse mesmo ângulo em fotografia do IPHAM, por ocasião do tombamento e em diversas fotos que noticiaram o grande incêndio ocorrido no dia 29/03/1983 e que durou, segundo testemunhos, das 19 às 22 horas.
A Fazenda São Bernardino, tal qual suas congêneres do Vale do Paraíba, era dividida em três áreas: trabalho, íntima e social.
O espaço de trabalho é composto pelo escritório (nº 14), pela sala dos cachimbos (nº 3), pela alcova (nº 1) e pelo grande salão social que ficava anexo ao escritório, locais onde agentes comerciais, fazendeiros, políticos e demais envolvidos com o universo do café eram recebidos e hospedados por ocasião de suas viagens de negócios.
O grande salão de jantar (nº 9a, 9b e 9c), era, evidentemente franqueado aos visitantes que porventura fossem admitidos a cear com a família, cujo acesso se podia fazer tanto pelo salão social como pelo corredor da ala esquerda, que também servia de acesso a escadaria para os pavimentos superiores.
A existência de uma “sala dos cachimbos”, cujo nome deriva do local onde os homens de negócios se reuniam para saborear os “prazeres lícitos” do hábito de fumar, enquanto proseavam e se concediam uma pausa das conversas tensas dos negócios comerciais, é atestada por menção de Mauro Azeredo feita ao autor destas linhas e citações de pelo menos duas fontes, como no livro “Pelos Caminhos que a História Deixou”, de Stélio Lacerda e Rogério Torres, na página 75, que igualmente faz referência as salas de “música” e de “festas”, assim como o historiador memorialista Ney Alberto Gonçalves de Barros (27/09/1940 – 22/06/2012), em matéria publicada no Jornal Destaque Baixada.blogspot.com.br, assim se expressando: “A capela interna da São Bernardino, ficava à esquerda, vizinha à “sala dos cachimbos”.
Ora, salvo equívoco do citado memorialista, o único compartimento vizinho a capela e suficientemente arejado para a suposta destinação de fumantes é o cômodo indicado pelo nº 3 da planta, situado atrás da capela.
Nesse mesmo artigo, o professor Ney Alberto, menciona ainda “na fachada lateral direita, havia uma porta que dava acesso a área de serviços, onde ficava o armazém, (últimas janelas)” o que coincide com o nº 24 da planta. Ficavam certamente aí, as prateleiras e caixas de depósito de grãos, os grandes armários destinados a guarda do material de despensa, para uso na cozinha, cujas dependências ficava na ala oposta (esquerda), cujo acesso do exterior se fazia também por uma escada e porta, perfeitamente simétrica no desenho, assinalada pelo nº 13 na planta.
Nº 2 –
Capela da Fazenda – medindo 3,00 X 3,74, espaço destinado as orações e celebrações dos ofícios divinos (Santas Missas), ladainhas, novenas e tríduos em honra dos santos da religião católica e, notadamente São Bernardino, invocação daquele oratório.Na planta observa-se a projeção que o altar do tipo fixo e encostado a parede, ocupava no referido cômodo, observando-se o retábulo e sua camarinha ou nicho, onde ficava, o trono (degraus sobrepostos, em madeira) sob os quais se distribuíam flores e castiçais. O conjunto pertencia ao estilo neoclássico, no qual predominavam as linhas retas e reduzido adorno. Observa-se ainda a mesa, na qual havia um furo central e nesse furo uma pedra incrustada (chamada pedra d`ara) com alguma relíquia atribuída a um santo, que geralmente era atestado pela igreja. No caso desse altar o mesmo teria pertencido ao “Collégio Pinheiro, na Corte” e fora trazido pelo proprietário da fazenda para lhe fazer nova dedicação, como se pode ver do requerimento feito pelo Comendador ao Bispo do Rio de Janeiro Dom Pedro Maria de Lacerda, último bispo do império do Brasil, e relatório feito a pedido do mesmo, por ocasião do pedido de autorização para celebrar missas naquela capela, levado a efeito pelo vigário da matriz de Nossa Senhora da Piedade de Iguaçu, o padre Antonio Vieira dos Santos, anos mais tarde secretário desse mesmo bispo.
Tão interessantes e elucidativos esses documentos que nos permitimos apresentar na íntegra pelo menos o relatório, para deleite do leitor, conservando a mesma grafia da época.
Ex. e Rev. Sr.
Em cumprimento da Provisão de V. Ex. Revma. fui pessoalmente à Fazenda de S. Bernardino propriedade do Commendador Bernardino José de Souza Mello, nesta Freguesia, para o fim de visitar, como me determina a dita Provisão, o Oratorio que ahi se acha; e a vista do exame a que procedi no dito Oratorio e nos objectos necessarios ao Santo Sacrifício da Missa, passo a informar a V. Ex. Revma. o seguinte:
O oratorio está em logar separado e independente de todo o uso profano, preparado não só com decência mas também com riquesa; tendo a direita e a esquerda um arcáz, cada um com dois gavetões, onde se achão as alfaias e paramentos. Por detraz do altar, como se vê em muitas Egrejas, levanta-se um throno de três degraus, sobre o último dos quaes está um Nicho, de portas de vidro, encerrando uma imagem a S. Bernardino, obra perfeita, de cerca de noventa centímetros de altura; tanto o altar como o throno estão ornados de jarras de porcelana e de castiçais galvanisados de prata, como usa-se hoje em nossas Egrejas. O oratório tem tudo quanto é preciso para o Santo Sacrifício da Missa, sendo todos os objectos quasi novos.
Não há dormitórios nem aposentos de nenhum dos lados, nem por cima nem por baixo do oratorio.
O altar é fixo, a pedra d’ara inteira, e intacto o sepulchro das relíquias da mesma. O cálix e patena são de prata, esta todo dourada, e aquela somente dentro da copa. Reputo sagrados estes dois objectos, bem como a pedra d’ ara, com quanto não seja possível na occasião saber-se quem os sagrou, visto terem pertencido ao oratorio do Collegio Pinheiro, na Côrte. No altar, além do forro da pedra d’ ara e do mesmo altar, ha trez toalhas, sendo estas, bem como os amictos, alvas, corporaes, palas, sanguinhos e toalhas de purificar os dedos ante et post missam de linho fino. Todos estes objectos julgo-os bentos, fundando este meo juiso nas mesmas razões porque reputo sagrados o calis, patena e pedra d’ ara. Há cinco paramentos de missa para as cinco cores em separado, a saber, branca, vermelha, roxa, verde e preta todos elles, no feitio e nos ornatos conforme ao uso deste Paiz. Também estes objectos julgo-os bentos, pelas razões já apresentadas. Ha também cruz com Imagem do Senhor Crucificado, seis castiçaes galvanisados, um terno de sacras, Missal Romano em bom uso com a competente estante, campainha, um par de galhetas e manustergios e finalmente subpedaneo junto ao altar.
Quanto a conveniencia do pedido, julgo dever-se ter em consideração o seguinte:
A Sra. do peticionario do pedido, além de outros encomodos chronicos, soffre ataques nervosos, com movimentos convulsivos e perda de sentidos, durante os quaes, sendo na Igreja, a muita distração e sussurro da parte dos assistentes, perturbação do Sacerdote e consequente interrupção dos actos religiosos; por isso julgo que está no caso de ser attendido; V. Exma. e Revma. porem fará o que entender em sua sabedoria.
Julgo ter cumprido as ordens de V. Exa. em todos os seus pontos.
Deus Guarde a V. Exa. Revma.
Iguassú, 13 de março de 1880.
Exmo. Revmo. Sr. D. Pedro Maria de Lacerda
Digníssimo Bispo Capellão Mór.






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Loja II - Calçadão de Nova Iguaçu Galeria Iguassu - Loja 15 Nova Iguaçu
(ao lado do shopping multidão, antigo Shopping Vida)





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