Ernani Hickmann
Professor da Escola de Pós-Graduação em Economia (EPGE) Fundação Getúlio Vargas (FGV), Coordenador dos Cursos de Graduação Latus Sensu da FGV
Discuti longamente com Mundell essas contribuições, já que ele foi o meu orientador no Pós-Doutorado na Universidade de Columbia, lá pelos anos de 1991, 92, 93.
Depois disso, o acompanhei em organizações de eventos internacionais. Participamos juntos do Reinventing Brettonwoods Commitee, que reunia algumas vezes por ano, em diversos países, um grupo de economistas do mundo inteiro, para discutir políticas cambiais e uma nova arquitetura financeira internacional para substituir a que tinha sido criada após a segunda grande guerra.
O grupo se chamava Reinventando Brentwoods. Viajava pelo mundo todo, todas as semanas um país, ministrando aulas, dando conferências, assessorado governos e organizações privadas. Estava com ele no dia de seu aniversário, em 2014, e nos encontraríamos novamente no dia seguinte para almoçar com seus filhos.
Só que, à noite, sofreu um grave AVC, fato que acabou tirando-lhe a capacidade de se locomover e de se comunicar, afastando-o definitivamente das reuniões e conferências, até o momento em que veio a falecer, na semana passada, aos 88 anos de idade.
Basicamente o modelo keynesiano, assim como as popularizações do mesmo, que a maioria das pessoas conhecem como sendo o modelo IS/LM, é um modelo de uma macroeconomia fechada, onde foi introduzido o setor externo. Mundell internacionalizou o modelo keynesiano, que tinha sido popularizado por John Hicks, passando a incluir as variáveis externas, permitindo formular políticas monetárias e fiscais adequadas para um mundo globalizado.
Como chegou ao Prêmio Nobel de Economia?
Mundell recebeu o Prêmio Nobel de Economia em 1999, por suas contribuições na área das políticas monetária, fiscal e cambial, e por ter criado a teoria das áreas monetárias ótimas, que serviu de base para a criação de moedas de âmbito multinacional, como o euro.
Eu e ele organizamos, em abril e maio de 2000, pela Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getúlio Vargas, uma grande conferência internacional, “Mercosul – O Desafio de uma União Monetária”. Foi realizada no Hotel Plaza São Rafael, onde se discutiu as possibilidades da criação de uma moeda única para os países do Mercosul.
Além da capital gaúcha, a conferência teve extensões no Rio de Janeiro e em São Paulo, e contou com a presença do então Presidente Fernando Henrique Cardoso e de diversos economistas do mundo todo, inclusive o então todo poderoso ministro da Economia Argentino, Domingos Cavalo. Foi o evento comemorativo ao lançamento do primeiro número do Jornal Valor Econômico.